MEIO AMBIENTE
Um dos principais desafios de construir com este material é a conexão e a possibilidade de desmontagem, dificultando a montagem em larga escala, pré-fabricação e reuso
Já imaginou ter uma mobília leve, resistente e estilosa? O bambu já proporciona tais propriedades, mas de certa forma ainda se limita a alguns móveis e raramente é usado em imóveis fixos, sendo usado na maioria das vezes em cabanas de férias, casas decorativas ou em imóveis temporários. Este quadro pode mudar em breve, barateando os custos com construção e trazendo novas opções sustentáveis para dentro e fora dos lares.
O pesquisador Romainvan Wassenhove, da Escola Politécnica Federal de Lausanne, na Suíça, em sua tese de doutorado, desenvolveu um sistema de conexões para unir colmos de bambu e possibilitar novas opções, resolvendo alguns dos principais problemas em transformar este material em um substituto eficiente de madeira e até mesmo do concreto.
O trabalho possibilita a redução da pegada ecológica na construção de estruturas de móveis e imóveis, principalmente quando se trata de concreto e cimento, uma vez que este último é responsável por 8% das emissões de CO2 mundial (segundo o pesquisador britânico Chatham House), e se esta indústria fosse um país, seria o terceiro maior emissor, ficando atrás apenas da China e EUA. Além da produção, a extração, transporte e preparo do cimento e de metais envolvidos na construção também são emissores de CO2, uma vez que envolvem máquinas movidas a combustíveis fósseis.
Outro concorrente que o bambu busca superar é a madeira, uma vez que esta é conhecida pela facilidade de trabalho, elevada rigidez e, se for reflorestada, é uma forma menos ofensiva ao meio ambiente.
A principal vantagem do bambu sobre ela é a velocidade de crescimento (30 a 40 anos da madeira vs. 3 a 5 anos do bambu), que se soma à maior capacidade de produção em um mesmo espaço ao mesmo tempo (78,3 toneladas por hectare ao ano para o bambu vs. 17,5 toneladas por hectare ao ano para madeira); e sua famosa resistência mecânica (mais flexível). Tal velocidade faz com que ele possa fixar até 30% mais CO2 do que as árvores no mesmo intervalo de tempo.
As únicas emissões de carbono envolvidas neste processo seriam relacionadas à colheita, transporte, manutenção e preservação, sendo reduzidas caso seja produzido próximo ao local de armazenamento e utilizado em grande escala. Desta forma, segundo o doutorando, o bambu pode ser até 20 vezes mais sustentável do que as madeiras se produzido localmente e usado em seu estado natural.
As principais desvantagens do bambu, especialmente em relação ao concreto, e que se assemelha a algumas das desvantagens da madeira e metais são: fogo, insetos e fungos; e devem ser protegidos para uso estrutural, principalmente da chuva, umidade e luz solar direta, evitando o desgaste prematuro.
Além da exposição, o bambu é resistente, porém, as tensões perpendicularmente às fibras são perigosas, pois sua resistência nesta direção é em torno de 1/50 de sua resistência na tração paralela às fibras, provocando divisão e se propagar facilmente, especialmente devido a uma pequena imperfeição no colmo ou durante o corte do colmo.
Tamanhos diferentes dificultam a padronização dos encaixes e conexões, fazendo com que seja necessária uma separação prévia por tamanhos, medições e construção de conectores dimensionados por faixas de tamanho. Desta forma, evita que haja encaixes mal-feitos, podendo oferecer bambus maiores e mais resistentes para algumas partes e menores e menos resistentes para outras.
As técnicas de trabalho, leis trabalhistas relacionadas ao trabalho com bambu, normas e legislações a respeito de seu uso estrutural em imóveis e móveis ainda são limitadas, sendo associadas aos relacionados à madeira, mesmo com grandes diferenças em suas propriedades, riscos e técnicas. Desta forma, não basta apenas novas técnicas e tecnologias, é necessário o treinamento, legislações e normatizações para tornar mais seguro e aceito o seu uso em massa.
A criação de Romainvan transforma os colmos de bambu em uma espécie de Lego adaptado, uma vez que usa conectores que poderão ser encaixados em uma junção múltipla, que pode variar conforme o projeto. Assim, será possível unir várias arestas (colmos) através de conectores resistentes, dando maior versatilidade e ampliando as possibilidades de projetos que poderão ser feitos com tal material.
Com o objetivo de facilitar a produção destes encaixes por pessoas amadoras, o doutorando também desenvolveu um software capaz de facilitar o projeto de móveis e estruturas modulares de bambu. Além de planejar as estruturas, também será possível a impressão 3D dos conectores, sendo este um possível modelo de negócio (cliente envia o projeto, e o doutorando poderia enviar o modelo adequado de conector para cada parte, bem como os tamanhos de cada colmo envolvido).
Desta forma, se novos projetos semelhantes entrarem no mercado (que é crescente e promissor, por sinal), e se este mercado se fortalecer com as novas tendências de sustentabilidade e ecologia (especialmente devido ao marketing verde, certificações e tratados internacionais), será possível e mais fácil que novas legislações e regulamentações relacionadas sejam criadas, bem como cursos e especializações relacionadas ao ramo, além de produtos, serviços e novas profissões em torno deste mercado, barateando a produção, tornando a cadeia mais sustentável e melhor adaptada às necessidades da sociedade.